Procuramos ser o mais diverso e divergente possível aqui no blog, tanto que não raro nossas listas contradizem uma as outras. Ser de direita, esquerda, centro, isento, liberal (os autênticos), tudo isso faz parte e é saudável para a democracia, entretanto não podemos compactuar ou relativizar as tendências nazifascistas tropicais que encontram respaldo em liderança na certa pessoa. Tais tipos de pensamentos e como já temos visto, são rápidos em tentar desconstruir o conhecimento, a intelectualidade, o saber e a cultura. Supomos que bons leitores consigam enfrentar tais excrecências com mais armas, e por isso selecionamos 10 interessantes leituras para ajudar a compreender porque #EleNão:
1 - Não Vai Acontecer Aqui, de Sinclair Lewis: Embora seja publicação americana, parece dizer muito da atmosfera eleitoral de hoje. Aliás, a obra teve seu retorno ao interesse dos leitores com a ascensão de Trump, e mostra justamente o processo da substituição do poder democrática, pelo voto, mas que os leva a uma tirania autoritária a perseguir intelectuais e opositores ao instalar no poder um populista que usa da violência, da intimidação e a instalação de um modelo nazista de governo. A abordagem do romance mostra-nos possíveis e perigosos cenários de um presente próximo para o país;
2 - Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão: Sabe-se que a narrativa distópica é uma representação tipo "futuro do presente" que ao se ambientar em um futuro carrega na verdade também crítica social ao seu presente. Ocorre neste livro escrito nos tempos duros da ditadura civil militar no Brasil e um de seus elementos é o discurso entreguista representado por uma nação fatiada e entregue ao poder internacional. Pelo visto não aprendemos muito, e nos discursos de tal figura a clara mas falsa contradição de um fingidor de nacionalista mas que está disposto a entregar o que falta do país a ser entregue;
3 - A Zona Morta, de Stephen King: Penso que os leitores deste livro bem possivelmente tenham traçado elementos comuns a fatos recentes de nossa política. A bem da verdade, quem quiser observar King para além do horror, encontrará em muitas de suas obras, questões politicas envolvidas, nesse especialmente. No livro, John Smith depois de sofrer um acidente na cabeça passa a ter vislumbres do futuro, claro, um futuro sombrio após a chegada ao poder de Greg Stilson que se não o precedesse bem poderia ser inspirado no caso em questão. Smith sabedor no que resultará aquela vitória política, passará então a conviver com o conflito de fazer ou não algo e tentar salvar todos;
4 - Sombras de Reis Barbudos, de J. J. Veiga: Uma coisa é você abrir mão da sua liberdade, mas não me peça para abrir mão da minha. Este livro de Veiga também escrito nos tempos duros da ditadura é ótima leitura alegórica de o que ocorre quando se está sob a égide autoritária. O autoritarismo e o totalitarismo já deveriam estarem enterrados há tempos da sociedade humana, de modo que só na literatura deveria ser possível conhecê-los como lembrete a evitá-los;
5 - O Conto de Aia, de Margaret Atwood: Uma narrativa distópica indispensável, especialmente em tempos que o escroto do candidato em linhas similares desenha um mundo não muito diferente do da obra, que agora é também série de sucesso. Aliás, que fantástico tem sido a resistência das mulheres ao nazifascismo tropical, pois estamos vivendo talvez uma das maiores revoluções femininas de nossa história e criadoras do lema que mudará as eleições: #EleNão;
6 - O Diário de Anne Frank: Minha divergência não é política, mas moral e ética. Não se pode achar que é brincadeira o chiste as posturas nazifascistas de hoje sabendo tudo o que já aconteceu de pior no mundo. A leitura do diário de Anne, mas também tantos outros diários como o de Helga. A leitura de perseguidos é importante para compreendermos a lógica da barbárie, até porque é a barbárie que Ele propõem;
7 - Terceiro Reich, Na História e Na Memória, de Richard J. Evans: Em tempos que tomamos um novo "7 a 1" todo dia, como por exemplo, brasileiro teleguiado do MBL dizer à Embaixada da Alemanha que ela está errada e que sim nazismo era de esquerda, este livro é um dos interessantes, entre tantos outros (especialmente aqueles que não dedicam-se apenas a carnificina da guerra), para ler sobre o nazismo e suas origens;
8 - Cidade de Deus, de Paulo Lins: Talvez muitos possam estranhar a obra nesta lista, mas trata-se de uma das mais relevantes de nossa história recente e um retrato muito importante do drama social que hoje tem servido de desculpa à criatura que vomita soluções simplistas para problemas muito complexos e que a narrativa acaba demonstrando. Além disso, a obra torna inútil a falsa dicotomia entre polícia e bandido, visto que o livro mostra que a coisa é muito mais problemática. Esse é um bom livro para ler em dobradinha com Capão Pecado, do Ferrèz;
9 - Léxico Familiar, de Natália Ginzburg: História real da autora e de como o fascismo italiano foi tomando conta da rotina da família burguesa que não ficou livre de ser tocada e atingida pelo regime;
10 - Fahrenheit 451, de Ray Bradbury: Esse é um blog de livros e de leitores e literatura, e confesso que assusta esse presente em que crescem os ataques e as tentativas de censuras aos livros, ataques que não raro partem tanto dEle e especialmente dos muitos fundamentalistas religiosos que o cercam. Quem queima livros queima pessoas, já disseram, e não duvido nem um pouco disso.