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10 Considerações sobre Fahrenheit 451, de Ray Bradbury ou por que não queimar os livros

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O Blog Listas Literárias leu Fahreinheit 451, de Ray Bradbury publicado pela Globo de Bolso; neste post as 10 considerações sobre este grande clássico da literatura universal:

1 - Publicado em 1953, Fahrenheit 451 é certamente um dos pilares da ficção científica, e muito mais do que isso, pois ao tratar de questões essenciais para a evolução da sociedade humana o livro é um romance completo, e que sua atemporalidade o mantem atraente e interessante, e por causa disso, ainda que muitos dos acontecimentos imaginados na obra não tenham se concretizado, as questões em seu âmago  assustadoramente volta e meia retornam à pauta e fazem com isso que esse livro siga imortal e muito, muito atual;

2 - É que mais do que a narrativa do bombeiro Guy Montag e sua rotina de queimar livros, a grande questão vivenciada na obra é o autoritarismo e a destruição do conhecimento em detrimento de projetos de poder, de forma que Bradbury cria um ambiente palpável em que os bombeiros representam este poder estatal autoritário, e que não raro no histórico do mundo, são os livros e o conhecimento que pagam o pato;

3 -  Além disso, assim como em suas As Crônicas Marcianas, o texto de Bradbury apresenta sua visão ainda impactada por um período pós-guerra cuja presença das armas nucleares é um fantasma que não os abandona, e embora escrito mais de uma década depois, o autor nos apresenta um futuro em que a guerra não nos abandona com seus aviões cruzando os céus e suas bombas ameaçando a todos;

4 - Outro elemento que faz deste livro algo tão relevante quanto se tornou é a firmeza de constituição de seus personagens, os quais podem evoluir ou permanecer alheios à verdade, como vemos nos contrapostos entre Mildred e o próprio Montag; Enquanto ela permanece sob o manto da ignorância e da abdicação da verdade, o bombeiro, por outro lado, acaba de certa forma passando pro um processo de conversão, saltando de um momento de representante da opressão governamental, para aos poucos, a partir do pensamento e da reflexão abrir literalmente luzes acerca da verdade, e com isso, reticente inicialmente, depois partindo para uma oposição por meio da ação;

5 - No entanto, não vejo Fahrenheit 451 tão somente uma obra abordando a opressão por meio da queima de livros; na verdade vai muito além disso, e a questão posta é principalmente a opressão através da extinção da liberdade de pensar e de produzir conhecimento, este sim um alerta muito mais vigoroso, até porque o ato de queimar livros pode ser amenizado com táticas com as posteriormente aprendidas por Montag com Faber na floresta; É o conhecimento contido nos livros que por fim não podemos deixar queimar, é a nossa capacidade de criar e refletir que devemos manter longe das chamas, e acima de tudo é a despreocupação com os ataques ao conhecimento que devemos nos preocupar constantemente;

6 - E isto fica ainda mais claro ao passo que o livro se aproxima muito dos tempos atuais em que a pobreza cultural e a idiotização das mídias parece tão presente. Já em 1953, Ray Bradbury nos apresenta uma sociedade alienada e não pensante, fato patrocinado pelo estado e sua cultura da síntese, a governança pela ignorância como no caso das paredes entretendo pessoas que já não trocavam mais ideias e pensamentos. Um mundo de isolados sob a falsa aparência de uma conexão maior, pois Fahrenheit 451 nos desvela um ambiente em que muitos paralelos com os dias de hoje podem ser traçados;

7 - Aliás, em termos de ficção especulativa, o livro traça alguns elementos interessantes, seja na questão da ambientação e da ação, como por exemplo a perseguição monitorada a Guy Montag que nos revela algo muito próximo dos realitys shows modernos, a própria questão das "paredes" que me parecerem lembrar às televisões de hoje em dia com suas farturas de polegadas, mas mais do que isso, o empobrecimento do conteúdo compartilhado por elas e o processo de "entretenimento" desagregador que acontece tanto em Fahrenheit 451 como hoje em dia, além é claro dos objetos que surgem durante a leitura como as radioconchas que lembram a um celular disponível, a própria televisão portátil, e até mesmo a identificação biométrica;

8 - Sem falar que o livro, além de todos esses elementos que fazem dele algo tão relevante, é uma leitura cuja ambientação e ação são um prato cheio para o leito que fica completamente imerso no universo estabelecido pelo autor;

9 - E para os amantes da literatura, esta edição da Globo de Bolso ainda nos apresenta um posfácio e uma coda, que mais do que compreender um pouco mais do livro, são um mergulho na posição do autor quanto a sua atividade e porque não sobre o papel da literatura e dos livros na sociedade e na produção intelectual;

10 - Enfim, falar de uma obra tão importante e reconhecida como esta pode ser chover no molhado, e justamente por isso, não posso contribuir mais do que dizendo, leitura indispensável, em um momento ou outro da sua vida de leitor você precisará ler Fahrenheit 451, e espero eu que não seja quando eles (os livros) estiverem sob o risco dos lança-chamas.





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